domingo, 14 de março de 2010

Dança e Ed. Física: do universo escolar para o mundo social


Ao analisar a vida de qualquer civilização desde as mais remotas até os dias atuais, verificam-se como expressões culturais, atividades como: jogos, desportos e dança.
Para manifestar suas emoções e exteriorizá-las, o homem recorreu ao movimento, ao gesto, que de acordo com Fahlbusch (1990, p.15), "é a dança" em sua forma mais elementar.
O conhecimento de si mesmo e da dança, portanto, passa pela necessidade de conhecer sua própria história e as manifestações culturais de seu povo. Nesse sentido, a dança sempre visou acontecimentos importantes da própria vida, da saúde, da religião, da morte, da fertilidade, do vigor físico e sexual, também permeando os caminhos terapêuticos, artísticos e educacionais, estabelecendo assim, uma diversidade interessante para essa manifestação. Dessa forma, a dança se insere no universo cultural, expressando significados, simbolizando a existência humana.
Era por meio da expressividade que o homem primitivo demonstrava sua relação consigo próprio, com o outro e com a natureza. Essa foi sua forma de manifestação social e que serviu para auxiliá-lo a afirmar-se como membro da sua sociedade. Observa-se isso nas afirmações de Oliveira (2001, p.14), quando menciona que:
Uma das atividades físicas mais significativas para o homem antigo foi a dança. Utilizada como forma de exibir suas qualidades físicas e de expressar os seus sentimentos, era praticada por todos os povos, desde o paleolítico superior (60.000 a.C.).
Por razões historicamente determinadas a educação escolar tem privilegiado valores intelectuais em relação a valores corporais. Giffoni (1973, p.15), afirma que os problemas educacionais "(...) quase sempre são considerados pelo lado intelectual, constituindo uma das faltas da educação". Bèrge (1988, p.24) também concorda quando utiliza a metáfora "(...) O cérebro se empanturra, enquanto o corpo permanece esfomeado."
Entretanto esta visão já vem se modificando. De acordo com Ossona (1988), atualmente existe uma melhor compreensão a respeito dos valores formativos e criativos da dança, que levam a uma ampliação das ações corporais.
No Brasil e no mundo a dança vem ganhando cada vez mais espaço pelos benefícios comprovados que de acordo com Gariba (2002), vão desde a melhora da auto-estima, passando pelo combate ao estresse, depressão, até o enriquecimento das relações interpessoais. É importante, contudo, que a prática da dança com objetivos educacionais tenha início na escola, como pode se verificar em Steinhilber (2000, p.8) : "Uma criança que participa de aulas de dança (...) se adapta melhor aos colegas e encontra mais facilidade no processo de alfabetização."
Nesta perspectiva, Pereira et al (2001, p.61) coloca que:
"(...) a dança é um conteúdo fundamental a ser trabalhado na escola: com ela, pode-se levar os alunos a conhecerem a si próprios e/com os outros; a explorarem o mundo da emoção e da imaginação; a criarem; a explorarem novos sentidos, movimentos livres (...). Verifica-se assim, as infinitas possibilidades de trabalho do/para o aluno com sua corporeidade por meio dessa atividade."
Cunha (1992, p.13) também ressalta a importância do processo de escolarização da dança: "Acreditamos que somente a escola, através do emprego de um trabalho consciente de dança, terá condições de fazer emergir e formar um indivíduo com conhecimento de suas verdadeiras possibilidades corporais-expressivas."
Vargas (2003, p.13) completa que a atividade da dança na escola "(...) engloba a sensibilização e conscientização dos alunos tanto para suas posturas, atitudes, gestos e ações cotidianas como para as necessidades de expressar, comunicar, criar, compartilhar e interatuar na sociedade."
Assim, fomentar a educação através da dança escolar não se resume em buscar sua execução em "festinhas comemorativas" (VERDERI 2000, p.33); tampouco oferecer a idéia de que "dançar se aprende dançando" (MARQUES 2003, p.19). Para esta autora o estudo e a compreensão da dança corporal e intelectualmente falando, "vão muito além do ato de dançar." A importância e o significado da Educação Física implica em reflexões sobre seus paradigmas, pois se vive numa sociedade dinâmica e entende-se que essa área deve contemplar múltiplos conhecimentos produzidos e usufruídos por esta sociedade, a respeito do corpo, assim como afirma Pinheiro (2004 p.32):
"A Educação Física desenvolvida de forma consciente, respeita as diferenças (...), ou seja, as individualidades de cada um e não dicotomiza o ser humano, não separando o corpo físico do mental, entendo que ambos funcionam de modo integral".
Para Giffoni (1973, p.15) a prática da Educação Física "(...) completa e equilibra o processo educativo" e acrescenta como opção nesta área "(...) a dança em todas as suas formas de exercício" destacando que a mesma apresenta-se como uma das atividades mais completa, além de concorrer de forma acentuada para o desenvolvimento integral do ser humano.
Portanto, pensar numa escola emancipadora é pensar em um espaço não apenas de escuta, mas de permanentes representações, construções e criações, tratando de interagir a prática pedagógica da Educação Física, através da linguagem corporal "com os diferentes conhecimentos que trazem a dança" (Ramos 1998, p.2).
Para Cunha (1992, p.11), a dança merece destaque junto à Educação Física complementando as atividades de "ginástica, lúdicas, esportivas e recreativas". Também para Claro (1988, p.67) "(...) a dança e a Educação Física se completam", em que "a Educação Física necessita de estratégias de conhecimento do corpo e a dança das bases teóricas da Educação Física"
No transcorrer destas reflexões falou-se em dança e a escola, dança na escola, dança com a Educação Física enveredando-se para os caminhos da educação.
Estas discussões apontam para o compromisso que se deve ter enquanto educador, assumindo uma atitude consciente na busca de uma prática pedagógica mais coerente com a realidade, em que a dança leva o indivíduo a desenvolver sua capacidade criativa numa descoberta pessoal de suas habilidades, contribuindo de maneira decisiva para a formação de cidadãos críticos autônomos e conscientes de seus atos, visando a uma transformação social.

Espera-se que essas reflexões levem a conexões, novas idéias, discussões sobretudo do aprofundamento da dança, contemplando também a atuação enquanto professor visando cada vez mais autonomia profissional, na busca de uma formação acadêmica mais coerente com a realidade do processo educativo e social.



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