domingo, 16 de maio de 2010

Atenção seletiva

A atenção seletiva pode ser definida como a habilidade do indivíduo dirigir o foco da atenção à um ponto em particular no meio ambiente (Ladewig, Gallagher & Campos, 1994). Gallagher, French, Thomas & Thomas (1993) ressaltam que a atenção seletiva atua no processo de codificação das dicas específicas relacionadas a tarefa e também, como controladora do processo que mantém informações relevantes na memória de curta duração. Segundo Treisman (1992) e Craik (1996), a atenção seletiva é um pré-requisito para a codificação de informações e os processos de codificação e recuperação são dirigidos pela percepção e a atenção. Ou seja, a atenção seletiva determina o que é percebido e codificado na memória (e com que grau de elaboração), que por sua vez poderá facilitar a recuperação da informação. Adler, Gerhardstein & Rovee-Collier (1998, p.280) citando Irwin (1991, 1992), Lewis, (1970), Moray, (1959) e Treisman, Squire & Green (1974) mencionam que “informações atendidas, em geral são muito bem lembradas, ao contrário de informações que não receberam atenção, que em geral não são lembradas e quando são, são muito vagas”.
O problema de falta de atenção na aprendizagem pode atingir indivíduos de todas as idades, porém é nas crianças, principalmente na faixa etária dos cinco aos oito anos de idade, que podemos considerar como um período crítico. É nesta faixa etária que elas são tidas ou mais conhecidas “por não prestarem a atenção”. Entretanto, é a partir desta idade que se inicia o desenvolvimento da habilidade de atender e selecionar informações contidas no meio ambiente. De acordo com Ross (1976) as estratégias de atenção seletiva não são usadas espontaneamente até o início da adolescência, em torno dos 11 anos de idade. Este processo desenvolve-se em estágios, onde durante o primeiro estágio (exclusivo) bebês e crianças muito jovens são atraídas por um único estímulo. Por exemplo, o bebê que fica brincando com o chocalho vários minutos, ignorando os outros brinquedos que estão ao seu redor.
Quando a criança atinge a primeira série do ensino fundamental, seus processos de atenção passaram por diversas mudanças e podem agora ser classificados como atingindo o segundo estágio, chamado de inclusivo. Neste estágio ela é facilmente distraída pelas inúmeras informações contidas no meio ambiente, atendendo à várias coisas ao mesmo tempo, não sendo capaz de separar as informações relevantes das irrelevantes. Pode-se citar como exemplo a criança que entra pela primeira vez em uma aula de natação e ao sair do vestiário para a piscina infantil, fica atraída pelo ambiente que contém além da própria piscina, outras crianças, diversos brinquedos e professores. Há uma grande chance de que esta criança tenha dificuldade em prestar atenção nas instruções do professor, devido a grande quantidade de informações contidas no meio ambiente da atividade.
Finalmente na adolescência, os jovens são capazes de selecionar as informações relevantes, ao mesmo tempo que descartam o que é irrelevante em uma gama de informações do meio ambiente. Este estágio é chamado por Ross (1976) de atenção seletiva. Um exemplo para ilustrar este estágio é o de uma criança que aprendeu a andar recentemente e é colocada em uma sala repleta de pessoas. Quando ela caminha em direção aos seus pais, estará olhando para eles ao invés do caminho que deverá seguir, consequentemente poderá colidir com uma outra pessoa e cair. Por outro lado, um adulto não terá dificuldade em caminhar no mesmo ambiente.
É claro que para toda a regra existe uma exceção! Neste caso, alguém poderá perguntar quais são os fatores que diferenciam as crianças jovens que conseguem prestar a atenção daquelas que não conseguem? Cada criança tem características próprias, que as tornam diferentes uma das outras. Estas diferenças podem ser decorrentes da própria educação recebida em casa (uma criação mais liberal versus uma criação mais restrita), fatores genéticos (déficit de atenção), etc. De uma maneira geral, as crianças mais jovens encontram dificuldades em prestar a atenção no professor ou até mesmo em brincadeiras com os amigos.
Hoje, da atividade mais simples à mais complexa, as crianças estão expostas constantemente a uma variedade de experiências onde é extremamente importante selecionar corretamente informações (dicas) relevantes à tarefa. A partir do momento que as crianças não desenvolvem completamente as estratégias da atenção seletiva até alcançarem à adolescência, a sua “performance” pode ser afetada caso não consiga selecionar corretamente as diversas informações de caráter proprioceptivas e exterioceptivas disponíveis no meio ambiente da atividade que estão realizando. O uso de estratégias cognitivas com a finalidade de auxiliar as crianças a lidarem com as distrações do meio ambiente, focando nos aspectos relevantes da tarefa, demonstrou efeitos positivos em diversas situações: 1) na seleção de informações dinâmicas no meio ambiente (Ladewig, 1994; Ladewig, Cuthma & Martins, 1998; Ladewig & Gallagher, 1994; Ladewig, Gallagher, & Campos, 1994, 1995); 2) na “performance” da parada de mão e do rolamento para a frente (Masser, 1993); 3) na “performance” de atividades que necessitam lembrar do local do movimento (Winther & Thomas, 1981).
Dentro desta perspectiva, devemos estar conscientes de que quando trabalharmos com crianças e adolescentes, necessitamos criar estratégias com o objetivo de direcionarmos o foco de atenção das crianças para os pontos críticos da atividade que estamos ensinando e consequentemente, facilitar a “performance”.

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